decantar tempos, descolonizar horizontes

Rafaela Tasca

Abril - Maio / 2021

 
 

Neste tríptico de horizonte deslocado e panorama partido, Rogério Ghomes remonta sua paisagem em tom propositivo. O título agrega sentido de captura do observador, com um ar devocional dado no tempo verbal - e reforçado pela tríade de imagens. Olhai é composição em três atos ritmada por distâncias e linhas. Ao centro, a areia entra mar reafirmando o Pontal, território do estreito litoral paranaense. Na porção acima da latitude central da imagem, seu ponto equatorial, o mar transborda em céu. As sete aves tomam a mediana, nova linha mais próxima do olhar. Da espécie que aniquila passados, elas habitam toda a extensão da paisagem. No horizonte das abas laterais, há uma cadência tonal no encontro entre céu e mar. As cores verde, azul, amarelo e branco, que correspondem à paleta das marinhas de Pancetti na Bahia, aclimatam-se à luminosidade litorânea do sul recoberta pelo efeito que artificializa a natureza. Com essa marinha do século 21, Rogério Ghomes dá amplitude à visualidade da paisagem subtropical paranaense, adensando o conjunto do período anterior com as obras de Bakun, Andersen e Freyesleben. Capturada pelo artista no início deste século, Olhai acontece num cenário de existência duvidosa e crise civilizatória: havia um bug anunciado na virada do milênio e o Novo Mundo era revisto em perspectiva histórica. Nesse tempo, estamos voltados para o mar, a montante de um novo sol a declarar futuros.

Olhai (2001)

 

OLHAI (2001)
Impressão pigmento mineral sobre papel Rag Photographique 310g / m sob metacrilato, 70 x 320 cm. Coleção Pirelli MASP.

 

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